A produção de imagens sacras em madeira policromada teve grande importância no período colonial brasileiro, em especial durante o chamado barroco mineiro. Mestres e oficiais criaram grandes números de obras de arte, que hoje constituem patrimônio inestimável. Dentro desse acervo destacam-se as representações de Jesus Cristo, esculturas que revelam bastante expressividade em diversas iconografias, como os Cristos crucificados, as imagens do Senhor dos Passos, as de Nossa Senhora da Piedade e Outras. Tais imagens estão presentes em oratórios, residências, capelas e altares das igrejas, e existem inclusive esculturas articuladas, que podem mudar de postura, utilizadas em procissões na Semana Santa.
Algumas das técnicas empregadas pelos artistas e artesãos na criação destas imagens podem revelar, ainda hoje, importantes informações sobre a arte e a ciência da época.
É o que acontece com as gotículas de material vermelho brilhante e semitransparente, conhecidas como os "rubis" das chagas de Cristo, presentes em esculturas no período barroco em Minas Gerais (séculos XVIII e XIX). Tais gotículas imitam o sangue das feridas dos Cristos e eram produzidas pelos fabricantes de tintas.
Estudos realizados sobre essas esculturas, no Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis (Cecor), da Universidade Federal de Minas Gerais, mostram que os artistas do interior do Brasil conheciam as técnicas avançadas da época. Pesquisar a tecnologia da obra de arte – uma das linhas e atuação do Cecor – significa aprofundar o conhecimento sobre a imaginária de Minas Gerais.
Para estudar as diversas camadas de tintas, vernizes e outros materiais aplicados sobre o suporte em madeira, microamostras com alguns milímetros quadrados são removidas em locais discretos da peça, preferencialmente em áreas de perda de policromia. Tais amostras são submetidas a uma série de análises físico-químicas, identificando-se a composição dos materiais usados. Os "escorridos" e os pingos de sangue são feitos sobre a carnação dos cristos, policromia que imita a pele, geralmente executada com técnica a óleo e pigmentos conhecidos como "branco de chumbo" e "vermelhão", de acordo com a descrição dos manuais de artes e ofícios do século XVIII.
Na constituição da tinta, o aglutinante, ou seja, o elemento responsável pela união dos pigmentos para formar uma camada, definia a técnica da pintura. Na pintura a óleo o aglutinante empregado era um óleo secativo : óleo de linhaça ou de nozes. Na têmpera, existiam vários tipos: têmpera a cola (cola animal), têmpera a ovo (ovo inteiro, clara ou gema de ovo) e outros. As carnações rosadas eram feitas superpondo-se camadas coloridas sobre uma "preparação" branca. Tal camada preparatória, uma mistura de carga (gesso ou carbonato de cálcio) e cola animal, tinha a finalidade de preparar a madeira e delinear as formas da escultura. O policromador aplicava, geralmente, uma película de cola sobre esta camada branca para deixá-la menos absorvente, antes de aplicar as tintas coloridas. A madeira também era protegida e impermeabilizada por uma camada de cola, a que chamavam de encolagem.
As representações de pingos de sangue foram estudadas por microscopia eletrônica com detetor de energia dispersiva de raios X (EDS), em cerca de dez Cristos dos séculos XVIII e XIX, pertencentes a igrejas e museus das cidades históricas de Minas Gerais. As imagens examinadas incluem desde crucifixos de pequeno porte até peças em tamanho natural, como o Senhor Bom Jesus dos Matosinhos (da cidade de Santo Antônio do Pirapetinga, próxima a Ouro Preto) e o Cristo Crucificado (do altar-mor da igreja de São Francisco de Assis, em Mariana), ambas atribuídas à escola do mestre Piranga, importante escultor da época; além do Senhor dos Passos e o Cristo Morto (da Igreja de Santo Antônio, em Santa Bárbara).
Essa técnica de análise, realizada na Escola de Engenharia da UFMG, Permite a localização e determinação dos elementos químicos presentes na amostra. Em todas as obras, as gotículas vermelhas apresentam enxofre (S) e arsênio (As) em sua composição, elementos químicos característicos de um mineral conhecido como ouro-pigmento, por sua cor natural amarelo-ouro. Uma receita da época explica em detalhes a fabricação dos pingos de sangue, citando o uso deste mineral. Quando aquecido em tubo de vidro fechado, o ouro-pigmento, ao sublimar (passar diretamente da fase sólida para a gasosa) e, em seguida, resfriar, adquire uma coloração vermelha com brilho resinoso.
Na tradição oral e mesmo descrições de revistas de arte, tais gotas s ão chamadas de "rubis" ou "resina vermelha" pelos estudiosos ou apreciadores da arte barroca, mas na verdade as características físico-químicas do material não se aproximam daquelas da pedra preciosa da qual tirou o nome e muito menos das de uma resina. Confirmando o realismo e a dramaticidade do barroco, esses pingos de sangue são encontrados em tamanhos variados, colados sobre a carnação das esculturas.
Carlos Del Negro, escritor e pesquisador da arte e arquitetura mineira do período colonial, dá também ao material das gotas de sangue o nome de "ialde queimado". Segundo esse autor, "o ialde amarelo, ouro pimenta (As2S3), de cor amarela viva, peso específico 3,46, aquecido funde facilmente em líquido vermelho (ponto de fusão 300°); pelo esfriamento solidifica-se em massa vermelha de densidade 2,76 (sic)". Del Negro revela ainda que o material trazido da Europa, está citado em documento de 1801 e foi utilizado pelo mestre da pintura Manuel da Costa Ataíde (1762-1830) na Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto.
A identificação – através de métodos e técnicas avançadas – de materiais pictóricos antigos, relacionando-os com o seu contexto histórico, permite compreender melhor a origem p, a fabricação e a aplicação desses materiais, fornecendo informações sobre sua evolução e estabilidade. No caso dos "rubis" das chagas dos Cristos, a pesquisa confirmou ainda que os mestres artistas do barroco mineiro conheciam os ofícios das artes européias. Tais subsídios são importantes para historiadores, restauradores e pesquisadores da arte barroca, ajudando a decifrar os mistérios das obras de arte do nosso rico patrimônio histórico.
Texto de Claudina Maria Dutra Moresi
Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis, Universidade Federal de Minas Gerais
sexta-feira, 26 de junho de 2009
domingo, 21 de junho de 2009
A Cara do Rio 2009
segunda-feira, 15 de junho de 2009
domingo, 7 de junho de 2009
Curso de Restauração de Imagens e Esculturas
O Curso de Restauração de Imagens e Esculturas se destina ao resgate da memória e a colocar profissionais qualificados no mercado. Ele se divide em 4 módulos:
1º Restauração em peças de gesso – todas as fases e opções para a restauração em gesso e materiais similares;
2º Restauração em peças de madeira – todas as fases e opções para a restauração em madeira e materiais similares;
3º Pintura Barroca – aprendizado de várias técnicas que identificam as imagens sacras;
4º Pinturas Especiais – técnicas de pintura para complementação de peças diversas.
O tempo médio de cada módulo é de 2 meses e meio (10 aulas), porém esse tempo é variável de acordo com o aluno (disponibilidade de trabalhar em casa, perfeição exigida, etc).
Aulas de Teoria da Cor, História da Arte Sacra, Modelagem e Uso de Materiais.
Estágio supervisionado certificado.
É um curso regular em atelier livre com certificado ao fim do curso e apostila, e a data de início é quando o aluno decide começar. Por isso, ele terá em sua turma alunos em vários níveis de aprendizado.
As aulas são as quartas-feiras no horário de 10h às 13h e de 14:30h às 17:30h.
Valor: R$ 150,00 por mês ou R$ 50,00 por aula.
Maiores informações pelos telefones (21) 22732252 / (21) 96553223 / (21) 71347882 ou pelo e-mail teresaec@terra.com.br .
Material para primeira aula
Ø 1 ou 2 peças avariadas em gesso
Ø Pincéis diversos (chatos/redondos, vários tamanhos incluindo 2/0 – 0, macios)
Ø Palitos para churrasco (para colocar algodão)
Ø Algodão
Ø Pedaços de malha de algodão
Ø Detergente
Ø Massa corrida PVA
Ø Potinhos ou godês
Ø Bisturis cirúrgicos
O Poder das Idéias.
Estou sempre sendo convidada para eventos e por isso, falo de exemplos.
Do dia 31 de julho até 04 de agosto participei de uma festa agropecuária no interior de Minas, na cidade de Além Paraíba. Andei por tudo até que vi um espaço chamado “Áreas Proibidas” e, fui até lá. Chegando, fui recepcionada nesse espaço cultural - no sentido mais amplo da palavra - onde havia um belo portal de concepção original, de muito bom gosto, que levou em consideração o próprio marco arquitetônico da cidade, que são os torreões da estação ferroviária; este foi criado pelo artista plástico J. G. Fajardo. Ao lado se via uma locomotiva reproduzida em madeira por Rolando Amaral. Quando ultrapassei o portal fiquei impressionada com o que vi, arte por todos os lados, confeccionada por artistas locais como: José Heitor (com a escultura Carijó e Pau de Sebo), Fausto Pauá (miniaturas de locomotiva e bonde), Pedro Antonio da Silva e Henrique Ferreira de Oliveira (fogão a lenha) entre outros, além da história das cinco cidades que fazem parte do circuito das Áreas Proibidas. Era incrível ver tamanha organização e minúcias em tudo.
Conversei com um dos idealizadores do projeto, Plínio F. Alvim, e vi a grandiosidade dessa idéia, pois a mesma não parou por ai e nem começou na festa. Existe uma mobilização de pessoas abnegadas que estão atravessando a ponte que une teoria a prática, porque chegaram a tal grau de amadurecimento pessoal que perceberam que quase todo o sonho se transforma em realidade, desde que a pessoa realmente queira. Para isso não basta a um ser humano ser apenas bom, é preciso ser inteligente e ter coragem, não ficando apenas no canto das intenções.
É com grande pesar, que vejo idéias e projetos como estes serem inalcançados e incompreendidos por causa da má vontade, competição de poder e ignorância de pessoas que não respeitam e nem valorizam o trabalho alheio e, muito menos o grande valor que tem a cultura do país.
É como a velha estória do beija-flor apagando sozinho o incêndio na floresta; cada um deve fazer a sua parte para que tenhamos a valorização da nossa cultura e imagem e mais ainda, o respeito e admiração de outras nações, para sempre podermos dizer com orgulho que somos brasileiros.
Para terminar, como dizia Bernard Shaw: “- Os sensatos se amoldam ao mundo... Enquanto que o mundo se amolda aos insensatos.” Como exemplo, temos Santos Dumont - inventor do avião.
Do dia 31 de julho até 04 de agosto participei de uma festa agropecuária no interior de Minas, na cidade de Além Paraíba. Andei por tudo até que vi um espaço chamado “Áreas Proibidas” e, fui até lá. Chegando, fui recepcionada nesse espaço cultural - no sentido mais amplo da palavra - onde havia um belo portal de concepção original, de muito bom gosto, que levou em consideração o próprio marco arquitetônico da cidade, que são os torreões da estação ferroviária; este foi criado pelo artista plástico J. G. Fajardo. Ao lado se via uma locomotiva reproduzida em madeira por Rolando Amaral. Quando ultrapassei o portal fiquei impressionada com o que vi, arte por todos os lados, confeccionada por artistas locais como: José Heitor (com a escultura Carijó e Pau de Sebo), Fausto Pauá (miniaturas de locomotiva e bonde), Pedro Antonio da Silva e Henrique Ferreira de Oliveira (fogão a lenha) entre outros, além da história das cinco cidades que fazem parte do circuito das Áreas Proibidas. Era incrível ver tamanha organização e minúcias em tudo.
Conversei com um dos idealizadores do projeto, Plínio F. Alvim, e vi a grandiosidade dessa idéia, pois a mesma não parou por ai e nem começou na festa. Existe uma mobilização de pessoas abnegadas que estão atravessando a ponte que une teoria a prática, porque chegaram a tal grau de amadurecimento pessoal que perceberam que quase todo o sonho se transforma em realidade, desde que a pessoa realmente queira. Para isso não basta a um ser humano ser apenas bom, é preciso ser inteligente e ter coragem, não ficando apenas no canto das intenções.
É com grande pesar, que vejo idéias e projetos como estes serem inalcançados e incompreendidos por causa da má vontade, competição de poder e ignorância de pessoas que não respeitam e nem valorizam o trabalho alheio e, muito menos o grande valor que tem a cultura do país.
É como a velha estória do beija-flor apagando sozinho o incêndio na floresta; cada um deve fazer a sua parte para que tenhamos a valorização da nossa cultura e imagem e mais ainda, o respeito e admiração de outras nações, para sempre podermos dizer com orgulho que somos brasileiros.
Para terminar, como dizia Bernard Shaw: “- Os sensatos se amoldam ao mundo... Enquanto que o mundo se amolda aos insensatos.” Como exemplo, temos Santos Dumont - inventor do avião.
terça-feira, 2 de junho de 2009
A Cultura enriquece o país
Sabe qual é o produto que mais contribui para a elevação do PIB num país de primeiro mundo? Não pense que você está lendo a coluna de economia ou finanças; estou falando do produto mais nobre que um país que quer dar certo investe: é o produto cultural.
O produto cultural é muito vasto e um marketing perfeito para um país. Quando nós compramos gêneros alimentícios, muitas vezes não atentamos de onde vem, mas novelas, filmes, festivais, obras de arte, sabemos com certeza. Olha ai o marketing. Se perguntarmos de onde vem os melhores filmes, todos responderão: Estados Unidos; obras de arte: França, Holanda, Espanha; novelas: Brasil. Sendo assim, porque não investir em um produto que já provou dar certo; além do que, uma nação precisa ter cultura própria, e esta ser identificada em qualquer lugar do mundo.
Os poucos investimentos feitos no Brasil vão para teatro, televisão, cinema e alguns shows. Quando vão para artes plásticas, geralmente são exposições de fora. Necessitamos de mais espaços para expor, imparcialidade dos curadores, patrocínio e mais união na classe. Hoje, na maioria das vezes se pratica a arte do “Q.I.”, o famoso quem indica; perdendo-se assim, ótimos talentos. Na imprensa, idem; com isso, temos nosso produto cultural mal divulgado, mal consumido e às vezes, mal representado.
Com uma boa divulgação nosso produto se torna bem aceito e consumido, aqui e no exterior, trazendo dinheiro para o artista e para o país.
Agir com inteligência faz bem a todos, valorizar nossa cultura é preciso e divulgá-la, imprescindível.
Teresa E. Calgam
O produto cultural é muito vasto e um marketing perfeito para um país. Quando nós compramos gêneros alimentícios, muitas vezes não atentamos de onde vem, mas novelas, filmes, festivais, obras de arte, sabemos com certeza. Olha ai o marketing. Se perguntarmos de onde vem os melhores filmes, todos responderão: Estados Unidos; obras de arte: França, Holanda, Espanha; novelas: Brasil. Sendo assim, porque não investir em um produto que já provou dar certo; além do que, uma nação precisa ter cultura própria, e esta ser identificada em qualquer lugar do mundo.
Os poucos investimentos feitos no Brasil vão para teatro, televisão, cinema e alguns shows. Quando vão para artes plásticas, geralmente são exposições de fora. Necessitamos de mais espaços para expor, imparcialidade dos curadores, patrocínio e mais união na classe. Hoje, na maioria das vezes se pratica a arte do “Q.I.”, o famoso quem indica; perdendo-se assim, ótimos talentos. Na imprensa, idem; com isso, temos nosso produto cultural mal divulgado, mal consumido e às vezes, mal representado.
Com uma boa divulgação nosso produto se torna bem aceito e consumido, aqui e no exterior, trazendo dinheiro para o artista e para o país.
Agir com inteligência faz bem a todos, valorizar nossa cultura é preciso e divulgá-la, imprescindível.
Teresa E. Calgam
Assinar:
Postagens (Atom)